anjodorio
20/03/2022Quantas vezes, amor, te amei sem te ver e talvez sem memória, sem reconhecer o teu olhar, sem te olhar, centauro, em regiões opostas, em um meio-dia escaldante: Você era apenas o aroma dos cereais que eu adoro. Talvez eu tenha te visto, eu adivinhei você enquanto passava levantando um copo em Angola, à luz da lua de junho, ou você estava na cintura daquela guitarra que eu joguei na escuridão e parecia o mar excessivo. Eu te amei sem saber e procurei sua memória. Entrei em casas vazias com uma lanterna para roubar seu retrato. Mas eu já sabia o que era. De repente enquanto você ia comigo eu te toquei e minha vida parou: diante dos meus olhos vocês eram, reinantes e rainhas. Como uma fogueira na floresta, o fogo é o seu reino. (Pablo Neruda)