O Espelho do Desejo
Mateus nunca pensou que sentiria prazer em dividir. Pelo contrário, sempre acreditou que o amor exigia posse, exclusividade, a segurança de ser o único. Mas havia algo que queimava dentro dele, uma chama discreta que só começou a ganhar corpo quando percebeu o brilho nos olhos de Laura.
Ela tinha um dom: caminhava entre os homens como quem acende velas no escuro. Não era apenas beleza — era presença. O jeito como inclinava a cabeça, como ria baixo, como deixava o cabelo escorregar pelo ombro. Mateus, muitas vezes, observava de longe. Via como os olhares a seguiam. E, em silêncio, sentia um arrepio estranho: um misto de orgulho e ciúme.
No começo, tentou reprimir. Mas o desejo não se deixa calar. Era como um segredo sussurrado no ouvido, uma fantasia que ganhava força a cada noite em que Laura lhe descrevia, sem malícia, como havia sido cortejada, observada, desejada.
Foi numa noite de sábado que tudo mudou.
Estavam em um bar discreto, música baixa, meia-luz. Laura trajava um vestido vermelho que parecia feito de pecado. Um homem aproximou-se, alto, seguro de si, e puxou conversa. Mateus observava. O coração acelerado, a respiração presa. Qualquer outro marido teria se levantado, intervido, marcado território. Mas Mateus permaneceu quieto.
Ele assistia.
A mão do estranho tocou de leve o braço de Laura. Ela não recuou. Riu, inclinando-se para ouvir melhor o que ele dizia. A cena era simples, quase banal. Mas, para Mateus, cada detalhe se transformava em um espetáculo íntimo. O olhar cúmplice de Laura, que de vez em quando encontrava o dele. O arrepio invisível que percorria sua pele. A tensão que se instalava no ar, como cordas esticadas prestes a vibrar.
Naquele instante, Mateus compreendeu: não era só voyeurismo. Era a sensação de ser exposto, de permitir que sua fortaleza fosse invadida, de saborear a vulnerabilidade. Era o prazer de ver sua esposa ser celebrada por outros, de testemunhar a liberdade dela como se fosse um reflexo do próprio desejo.
O bar se tornou um palco secreto. Laura, a atriz principal. O estranho, um convidado inesperado. E Mateus, o público privilegiado que, no fundo, também fazia parte da cena.
Quando voltaram para casa, a tensão ainda vibrava entre eles. Nenhuma palavra precisava ser dita. Laura pousou a mão sobre o peito do marido, sentindo o coração bater forte, e sussurrou:
— Você gostou de me ver assim, não foi?
Mateus não respondeu. Apenas fechou os olhos, rendido.
E naquele silêncio, descobriu que o prazer podia nascer não da posse, mas da entrega.

Postar