Somos a turma que chega ao fim do ano cansada, não porque falhou, mas porque sentiu demais. A que tentou, do jeito que deu, segurou o que pôde, caiu em velhos padrões sem perceber e, quando percebeu, já estava de novo se cobrando por isso. Queremos um ano novo diferente não por ingratidão com o que passou, mas por uma necessidade legítima de respirar de outro jeito por dentro. Na psicanálise existencial, entende-se que ninguém muda por mágica ou força de vontade pura. A gente muda quando começa a se escutar com menos julgamento e mais curiosidade. Quando percebe que muitos comportamentos não são fraquezas, mas estratégias antigas de sobrevivência que um dia funcionaram e hoje só estão cansadas. E tudo bem admitir isso. Não é fracasso, é consciência! Um ano novo diferente, nesse olhar, não é se reinventar inteiro, é se tratar com mais humanidade. É trocar a pergunta “o que há de errado comigo?” por “o que em mim está pedindo atenção?”. É aceitar que crescer dói um pouco, confunde bastante e raramente acontece em linha reta. A angústia não some, mas muda de função: deixa de ser inimiga e passa a ser sinal de que estamos nos implicando na própria vida. No fim, somos a turma que ri de si como quem tropeça, olha em volta, finge que foi coreografia e segue, que reconhece suas contradições sem se condenar. A que entende que amadurecer não é se consertar, é se sustentar. E talvez seja isso que torna um ano realmente novo: menos promessas grandiosas e mais presença honesta consigo mesmo, um dia de cada vez. #privacidade