AMORES LÍQUIDOS - Bauman Em sua obra,Amores líquidos- A fragilidade dos laços humanos; Bauman traça um paralelo de como nossa sociedade capitalista modela nossa forma de nos relacionar afetivamente e sexualmente. Você conhece alguém que te parece interessante, que ora te dá muita atenção, ora desaparece sem dar satisfação. Mas que satisfação, temos uma relação? Acho que sim, mantemos contato diário, compartilhamos assuntos pessoais, fotos,vídeos, agenda. Mas pera lá, houve uma proposta de relacionamento? Não, então não há uma relação. Ou há? Partindo do princípio de que não há, posso ir, desmanchar, formar e desformar. Mas desmanchar o quê se não existe nada ‘’concreto’’? Logo não preciso falar nada, é só sumir. De um lado na mesma pessoa: estamos separados! Do outros: estamos juntos? Bauman chama isso de sinais confusos. Quero conversar por horas, ter rotina diária, falar onde estou e para onde vou, mas no desejo conflitante de estreitar laços mas também mantê-los frouxos. Há uma ilusão inebriante que envolve como um feitiço (etimologicamente-um encantamento, algo que dura pouco) que se satisfaz com conexão, não precisa de relação. O Paradoxo da ânsia de ter e do tédio de possuir (Schopenhauer). Mas porque agimos assim? Por medo! Medo de reviver experiências traumáticas, e eu sei que agora, você pensou naquela pessoa que te magoou, mas eu já te adianto que não foi com ela que isso ‘’nasceu’’, mas isso é assunto pra outro momento; eu, você e Freud rs. O medo de acessar o núcleo da dor do abandono, da rejeição, promove em nós a desconfiança de que tudo se repita. Surge a angústia do: comer o bolo mas manter o bolo intacto. Ganho sem perda. Uma fronteira entre a carícia suave e a garra que pode me apertar. Resultado? Relacionamento Pocket, de bolso. Em que se usa quando cabe, e se guarda quando não quer; mas tendo sempre á mao, sem comprometimento. Ora sim, ora não, depende… Vamos deixar assim, sem rótulos rs. Quem está ( e quem é que não está), identificado com o amor líquido, tem horror a se sentir preso, ainda que seja uma abstrata prisão emocional.É como esquiar sobre o gelo, se você se demorar por ali, ele quebra e você pode morrer, então vamos passar rápido, deslizando com velocidade. A temporada está aberta e já já se fecha. Vemos tudo isso de forma escancarada, na substituição das relaçoes ‘’presenciais’’ ( me sinto blasfemando e agredindo a gramática agora), pelas relações virtuais que tem por essência: satisfação instantânea, resultado sem esforço, movimento constante, rotatividade alta. O que resulta em confusão e abalo emocional distribuído de modo pulverizado, assim como todo o sofrimento adquirido. Vem forte e passa. Mas já já repete. Bauman nos compara a ratos de esgoto, que por não terem uma rotina estável, vivem diariamente a adrenalina da inconstância, da irregularidade, da insegurança de ter ou não o que o alimenta, afinal se fixar no que existiu ontem acreditando que haverá hoje, é praticamente assumir o risco de aniquilamento.E isso é reviver memória de cenário de trauma, mas isso tbm é assunto pra outra hora. Qual a solução que se criou para essa realidade? Consciência total + nenhuma expectativa= Sexo seguro (virtual e real). Não temos nada e isso está claro, certo? E se você achar que tem, foi uma expectativa criada por você ( abstenção da responsabilidade).O sexo seguro,seguro em termos de preservativo, apenas. Sem segurança emocional, afinal quanto maior a abertura para relações emocionais, mais perigoso é. Sim, as soluções são rasas, no mesmo patamar dos animais em certa medida; ignorar mensagens por meses, bloquear, excluir. Fingir que não existe, é segundo a psicologia um recurso de defesa psíquica e psicológica infantil, usamos lá quando éramos pequenos por não ter sofisticação cognitiva. Agora, ‘adultos’, por ainda não termos maturação ( leia-se maturidade tbm), recorremos ao mesmo recurso. Ops, Freud de novo. Não é curioso como neste momento você está se reconhecendo nesse texto? Eu também, e olha, eu escolhi o assunto pq tinha curiosidade no pensamento de Bauman e ao aprender, fiquei assim: gente, eu toda! Mas e o amor? Onde é que fica o amor nessa história toda? Atingir a capacidade de amar é uma rara conquista que exige escalas altas e constantes de: humildade para reconhecer que não sabe amar e se prontificar de coração aberto para aprender. CORAGEM para desbravar o desconhecido campo da vulnerabilidade própria e a do outro. PERSISTÊNCIA para não desistir diante dos desafios que a vida relacional propõe. Essa é a magia do pensamento filosófico e sua incrível capacidade de relacionar ideias com a vida como ela é. Eu estava morrendo de saudades de gastar meu latim, aqui com vocês. Estou dando aulas a alguns meses e tenho matado essa vontade com meus alunos, mas vocês também me são especiais, então, contem comigo para vez ou outra questionar a vida, o ser e o não ser, mas principalmente, ser nós mesmos onde quer que estejamos.

antropologiade Bauman é um clássico. Já foi mais citado. Anda um pouco esquecido.