O Café da Tarde A chuva caía pesada, mas o ambiente do café era quente, iluminado por luzes amareladas e vozes sussurradas. Clara segurava sua xícara de cappuccino com as mãos trêmulas, embora não estivesse frio. Ela esperava, como sempre, ansiosa e confusa. Miguel chegou pontualmente, com o sorriso que já era tão familiar quanto proibido. Ele se sentou à sua frente, sem hesitar. Não precisavam de palavras; o olhar dele bastava para derreter qualquer culpa que ela carregasse. Naquela tarde, Clara se perguntou pela milésima vez por que ainda estava ali. Seu marido, Paulo, era um homem bom, carinhoso e confiável. Mas também era previsível, e Clara não sabia ao certo quando começou a desejar algo diferente. Talvez tenha sido o acaso que colocou Miguel em seu caminho ou sua própria inquietação que a levou a ceder. O toque das mãos sob a mesa parecia mais íntimo do que tudo o que tinham feito até então. "Eu não posso continuar assim", ela murmurou, mas sua voz não carregava convicção. Miguel sorriu de lado, com a confiança de quem sabia que ela voltaria. "Você pode, Clara. Porque aqui é onde você se sente viva." E ele estava certo. Clara sabia que aquele café, aquele olhar, aquele toque – tudo isso a fazia sentir algo que parecia ter esquecido em sua vida cotidiana. Ela sabia que havia uma escolha a ser feita, mas, por ora, escolheu se perder na ilusão.
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