Ela lê com a tranquilidade de quem não precisa provar nada. O livro cobre o rosto, mas não esconde a consciência do próprio efeito. Ela sabe quando é observada. E sabe, sobretudo, por quem vale a pena ser observada. Os pés repousam elevados, entregues ao conforto do lençol claro. Não se exibem. Se permitem. A curva do arco surge limpa, natural, quase cruel na sua harmonia. Os dedos relaxam, depois se alongam lentamente, como quem testa a paciência de quem assiste. Não há pressa. Nunca houve. Quem ama pés entende que isso não é oferta. É prova. Ao virar a página, um flexionar discreto. Um gesto pequeno demais para ser acidental. Grande demais para passar despercebido por quem observa com devoção. E quem percebe sente o corpo responder antes mesmo de decidir se deveria. Na segunda cena, uma taça repousa entre os dedos. O líquido reflete a luz suave do ambiente. Os pés se aproximam, se cruzam, se tocam de leve. Intimidade contida. Um limite claro entre o que se vê… e o que se imagina. Ela não procura reação. Ela avalia. Alguns olham. Poucos contemplam. Raríssimos sabem esperar sem pedir. Ela sabe que há quem sinta vontade de se ajoelhar em pensamento. Quem deseje provar com os olhos. Quem queira implorar por mais — e se contenha, por medo de não estar à altura. Pés assim não se conquistam com pressa. Nem com palavras demais. Eles respondem apenas à atenção verdadeira, à adoração silenciosa, àquele que entende que nem todo desejo será satisfeito. Ela continua lendo. Enquanto isso, alguém aprende que o verdadeiro prazer não está em tocar… mas em saber que talvez, um dia, seja permitido. Nem todo olhar sabe adorar. Se o seu souber, me diga. #Podolatria
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