“É porque as pessoas envolvem o sexo em tanta merda — mesquinharias, ciúmes, despeitos, inseguranças, disse-medisses, suspeitas, afirmações de ego, tanta, tanta merda — que fazer sexo com amigos às vezes acaba prejudicando a amizade. Não se oferece merda aos amigos, atentar nisso, os amigos são muito importantes. Então, livrar-se da merda, para pode oferecer a ambrosia, que está aí para quem quiser deixar de ser babaca e ver. Se se prestar atenção e se assumir a postura correta, o certo é comer os amigos, é absolutamente óbvio, chega a ser ridículo ter que dizer isso e apresentar como tese a ser discutida, não há nada a ser discutido, é elementar, lógico, curial. Não todos os amigos, é claro, minha ideia não deve ser deturpada, embora eu ache legítimo que alguém empreenda como missão de vida comer todos os amigos e amigas que puder. Eu mesma, de certa forma, sou assim e conheço gente assim, mais gente do que seria de esperar à primeira vista. Comer alguém deve ser um gesto de amizade e que complementa e aprofunda, não estraga essa amizade. O que estraga é o lixo na cabeça, que não é inerente ao sexo, são os penduricalhos mortíferos que arranjam para ele. Experimente conversar sobre isso com amigos e coma eles, se eles se revelarem sensíveis a essa maneira de ver as coisas. Indecente é comer pessoas que não seriam nossas amigas.” (João Ubaldo Ribeiro, A casa dos Budas Ditosos) 📖
