A sala estava mergulhada em penumbra, apenas a chama trêmula de um abajur lançava sombras longas sobre a parede. O silêncio era tão espesso que parecia conter uma expectativa antiga, um segredo prestes a ser desvelado. Ele entrou, com a respiração marcada, como se adentrasse não apenas um cômodo, mas um destino. Ela, sentada com a postura de uma rainha entronizada, deixou que seus olhos o percorressem como lâmina fria. Não havia pressa, apenas a certeza de quem sabe que tudo lhe pertence antes mesmo de tocar. Bruna não se erguia para receber; era ele quem deveria se aproximar, ajoelhar-se diante daquela presença que misturava delicadeza e aço. — Ajoelhe-se. — disse com voz baixa, melodia que não admitia réplica. Ele obedeceu, cativo da ordem. Os joelhos tocaram o tapete macio, mas o peso sobre seus ombros vinha dela, do olhar, do sorriso mínimo que carregava crueldade doce. Bruna inclinou-se levemente, os dedos enluvados roçaram-lhe o rosto com uma ternura que ardia mais do que qualquer golpe. Aproximou-se de sua orelha, e o sussurro soou como sentença: — Estava faminta por este corpo que me pertence. Não se iluda, não é prazer, é poder. A mão dela desceu, firme, marcando o caminho até sua virilidade. Segurou-o como quem reivindica posse e não deixa espaço para dúvida. Sorriu, o sorriso enviesado de uma cortesã que se diverte em ver a submissão nascer em olhos masculinos. A lentidão com que o tomou era quase uma tortura calculada. Cada gesto tinha a precisão de um ritual pagão: encaixava-se nele com maldade requintada, como se o próprio tempo fosse obrigado a assistir. O corpo dela se movia com arte — os quadris desenhando curvas que não eram apenas desejo, mas coreografia de domínio. Ele fechava os olhos, mas Bruna não permitia. Segurou-lhe o queixo, obrigando-o a encarar o abismo do olhar dela. — Abra bem. Quero que veja a sua própria ruína acontecendo em mim. E assim o cavalgava, primeiro como sacerdotisa em transe, depois como imperatriz que exige tributo até o limite. Cada estremecimento dela não era entrega, era ordem: que ele resistisse, que se mantivesse firme ainda que o corpo pedisse rendição. A cada onda de prazer que a fazia tremer, ela retornava ainda mais voraz. Arrancava dele não apenas gemidos, mas a própria dignidade de homem. Quando seus dedos puxaram-lhe o cabelo com violência contida, ele compreendeu que não havia saída. — Aguente. Eu ainda não terminei com você. — sussurrou, e o sussurro tinha o peso de um chicote invisível. De costas, a dança do corpo dela era espetáculo privado, obsceno apenas pela perfeição. Ele via tudo — a curva das ancas, o ritmo implacável, a forma como o consumia inteiro. Era a perdição em carne, e ele era apenas o palco de sua soberania. O gozo veio como convulsão de alma: suor, grito e entrega total. Bruna permaneceu sobre ele um instante, a respiração curta, o corpo ainda pulsando em pequenas ondas de vitória. Então ergueu-se com calma cruel, como se nada tivesse sido extraordinário. Vestiu-se lentamente, a renda deslizando pela pele como afronta silenciosa. Olhou-o por sobre o ombro, e havia naquele gesto a promessa de outra condenação: — Da próxima vez, diante do espelho. Quero ver sua face inteira quando sucumbir a mim outra vez. E saiu. Sem beijo, sem promessa. Deixando apenas o perfume suspenso no ar, como marca indelével de sua soberania. Ele ficou, corpo exausto, mente devastada. Sabia que voltaria. Sempre voltava. E cada retorno era a lembrança de que não havia fuga de uma mulher que se sabe dona do seu corpo, da sua noite e da sua perdição.
