(Culto à língua)
No principio era o céu, a terra e o silêncio, e do silêncio veio a linguagem não verbal, depois a linguagem oral, da fala nasceu a palavra, da palavra o verbo, e do verbo se fez o prazer do texto. A figura de linguagem que seduz, lambe e chupa. Eu quero o teu corpo nu. Quero a tua carne desprovida de clandestinidade. Quero matar a sede do teu líquido. Quero matar a fome da tua matéria. Quero acender meu cigarro no fogo das tuas entranhas. Quero me embebedar da tua luxúria. Quero tomar um porre dos teus lábios. Quero me afogar nos teus beijos. Quero marcar teus seios com a minha boca. Quero me sufocar nas tuas coxas. Quero das tuas pernas o meu mapa libidinoso. Quero acordar com a tua língua feito o meu despertador. Quero adormecer do teu rebolado feito um blues. Quero pecar do teu pecado. Quero a benção dos teus pequenos e grandes lábios. Quero me ajoelhar na frente das tuas profanidades e pedir penitência. Quero do teu gemido o vulgar. Quero da tua palavra o imoral. Quero do teu verbo o ilícito. Quero do teu prazer o que há de mais sórdido e libertino da língua. E, se porventura, tu te ausentares: quero que o gozo seja despejado em tua homenagem.
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