harolrock
Ao deixar que me perca no infinito que paira entre os nossos corpos, torno-me constelação no céu alcançado apenas pelos sonhos. Entre as nossas bocas, sobejam palavras, apesar das histórias já escritas, desde sempre, no denso silêncio que precede o som. Nossos desejos são assim, belos justamente por serem inconfessáveis. Compartilhamos roteiros, destinos e efervescências. A nossa transa é um segredo tatuado na pele, é a eletricidade da presença e a áurea plenitude do estado da arte. As telas que nos separam não arrefecem o calor inevitável da intenção, tampouco podem conter, no seu brilho, a deflagrada e crua manifestação imperativa do instinto. Somos estrelas que se orbitam em uma galáxia de latências, sugestões e possibilidades. Nosso vício compartilhado é o incessante e irremediável desejo da realidade.
harolrock
A petite mort às vésperas de um sonho ou um singelo pas de deux sobre as sinuosas - e surpreendentes - curvas da vida? Não há como definir poeticamente um apego romântico quase instantâneo, um sentimento quase instintivo de, simultaneamente, possuir e pertencer. Tampouco haveria como expressar em um só verso a indizível plenitude de tudo que é belo. Nas suas curvas, derramei juras e promessas silenciosas; na rigidez do instinto, alcancei o ápice; no encontro das nossas essências, atei-me ao brilho infinito das estrelas. Agora, tenho no corpo as marcas de uma vontade insaciável, e nos olhos, a sempiterna visão dos puros contornos femininos do fascínio. Profiro seu nome como quem declama uma ode ao encantamento, encontro-a, incandescente, ao fechar os olhos. Sinto o beijo delicado em paradoxo às delirantes urgências do corpo. Abandono-me, sem remissão, ao acaso dócil dos seus braços. Como Ulisses, cumpro, enfim, o meu destino no seio desejado de Penélope.