De Catuaba a Ayahuasca, passando por hipnose e psicanálise, ela já havia tentado provavelmente de tudo em busca de um orgasmo. E nem precisaria ser múltiplo, explosivo, molhado. Ela só queria entender do que suas amigas estavam falando quando descreviam a sensação – teoricamente – maravilhosa de perder o controle do corpo todo, sentir espasmos musculares e pequenas descargas elétricas na vulva que as deixavam com uma mistura de exaustão e total vigor ao mesmo tempo. Portanto não é de se estranhar sua presença nesse retiro de bem-estar sexual com uma dose levemente excessiva de positividade hippie. Enquanto sua melhor amiga está despida da cintura para baixo, com um espelho de mão perfeitamente posicionado para que possa conhecer sua zona íntima, ela sequer descruzou as pernas. Decidida a não ser taxada de puritana dentro daquele círculo de mulheres de todas as idades, algumas que poderiam ser sua filha, caso tivesse uma, ou sua mãe e até avó, ela respirou fundo, pensou “dane-se” abrindo-se figura e literalmente para o exercício. O comando da terapeuta tântrica de braços torneados e uma pele que só poderia ser descrita como feita de chocolate e pó de ouro era simples: conheça seu corpo. Foi inebriante e encorajador sentir o ambiente ser tomado pouco a pouco por cheiros cítricos, ora avinagrados, ora com notas florais, que se perdiam em meio ao típico odor de sabonetes íntimos que substituem nosso aroma peculiar por uma versão farmacêutica. Ela passou a levar a sério a atividade quando, em vez de olhar ao redor, tomou coragem e encarou o espelho. Se era preciso preparação psicológica para se enxergar nua diante uma plateia, imagine fazê-lo mirando não seu corpo como algo coeso, mas buscando detalhes na sua vulva, seus grandes lábios, clitóris e cavidades? O que viu, porém, a surpreendeu. Percebeu em si uma poesia concreta, daquelas que desmontam palavras e só fazem sentido para quem se empenha em decifrá-las. Reconheceu ali, na sua parte mais oculta, formas da natureza que não lembravam nem flor, nem fruta, mas gotas escorridas de uma vela doce e perfumada, que juntas formavam marcadas como a água de rio deixa na areia. No fim da dinâmica, a sensação era de que, vencido o preconceito que ela tinha contra si, não havia mais barreiras a superar. O orgasmo enfim parecia algo possível.
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amante2023 Você é Maravilhosa Mulher... Mulher!❤️